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ASSEMBLEIA DE DEUS, 104 ANOS!

Por Gutierres Fernandes Siqueira

Neste dia comemoramos mais um aniversário da maior denominação pentecostal do país. Sabemos dos inúmeros problemas presentes nela, mas podemos glorificar a Deus por diversos motivos:

a) A Igreja Evangélica Assembleia de Deus é uma comunidade sem dono. Algumas lideranças até pensam possuir a procuração da denominação, mas isso não passa de vaidade. A grandeza dessa igreja está no fato dela não depender de uma personalidade.

b) Na sua grandeza há vasta diversidade. O assembleiano não é mais um único tipo, um esteriótipo. A diversidade é tão grande que abriga até mesmo políticos diferentes como Marco Feliciano e Marina Silva. Aqui você acha erudito e anti-intelectual, cantores de música clássica e fãs de trágicas composições como “Jesus não é dinheiro, mas Ele é real”. Há diversidade, mas há unidade. O assembleiano pode ser muito diferente na individualidade, mas dificilmente será na cultura denominacional.

c) Pode-se discordar da doutrina assembleiana em alguns pontos, especialmente a pneumatologia e escatologia, mas é uma denominação que prima pela ortodoxia cristã. A discordância em pontos secundários em nada afeta o compromisso dessa igreja com as doutrinas fundamentais da fé cristã e protestante. É doutrinária, mas também evangelizadora.

d) É uma igreja brasileira, tanto nas virtudes quanto nos defeitos. É a única igreja que está no meio do Amazonas, nas favelas cariocas, no sertão do Ceará ou nos bairros centrais de Curitiba. O último comercial da cerveja Brahma para a Copa do Mundo 2014 é bem significativo, pois para exemplificar a busca por uma pequena e distante cidade, o caminhão passa por um caminho de terra onde há uma Assembleia de Deus. É apenas uma amostra inusitada como essa igreja evangelizadora está em cada pedaço deste grande país.

Parabéns, assembleianos de todos os ministérios!

Não, Folha de S. Paulo, não vivemos sob uma ameaça fundamentalista!

Por Gutierres Fernandes Siqueira, do Blog Teologia Pentecostal.

Recentemente foi lançado no Brasil o livro “Submissão” [1] do escritor francês Michel Houellebecq. Nessa ficção, a França passa a ser governada por um fundamentalista islâmico populista no ano de 2022 e, consequentemente, passa a sofrer uma tirania de inspiração religiosa. O livro causou polêmica na Europa e, como sempre, foi acusado de islamofóbico e de incitar “discurso de ódio”. Todavia, como lembra a escritora africana Ayaan Hirsi Ali, a expressão “discurso de ódio” é “o termo moderno para heresia. E no clima atual, qualquer coisa que faça os muçulmanos se sentirem incomodados é rotulada de ‘ódio’” [2]. É uma ótima ficção que busca provocar um debate sobre a compatibilidade das crenças do Islã com a cultura e os valores liberais do Ocidente.

Bom, esse é o livro que o jornal Folha de S. Paulo escolheu para retratar o momento político do Brasil em um longo editorial neste domingo. Segundo o jornal paulista, nós estamos vivendo na iminência de uma Irmandade Evangélica, ou seja, um jogo de palavras para comparar os evangélicos aos radicais da Irmandade Muçulmana, um grupo político forte no norte da África de inspiração fundamentalista. O Brasil está sob uma perigosa ameaça conservadora que coloca em xeque os valores da liberdade, segundo o jornal. Será?

O editorial é ofensivo aos evangélicos. Em primeiro lugar, o fundamentalismo evangelical em nada pode ser comparado com o fundamentalismo islâmico. O evangélico, por mais conservador que ele seja, não tem espírito combativo e conquistador. O fundamentalismo cristão é de natureza teológica e não impulsiona nenhum movimento político importante. O Brasil já conta com uma população de 40 milhões de evangélicos e cada vez é maior a garantia de liberdades aos diversos grupos de minorias. Além disso, o crescimento evangélico em nada impede a constante secularização da população, mas pelo contrário: o crescimento evangélico fortalece a secularização, isso porque põe fim ao hegemonismo centenário da Igreja Católica Romana. Diferente do islamismo, o cristianismo já provou mais de uma vez sua compatibilidade com a liberdade e valores ocidentais.

Há sim alguns evangélicos que acreditam em um Estado dirigido pelas leis divinas, mas eles são tão poucos que não se pode levar a sério qualquer tipo de ameaça ao Estado liberal. Na teologia chamamos esse grupo de “teonômicos”. Ora, é mais fácil achar um evangélico viciado em heavy metal do que um crente na teonomia, A maioria absoluta dos evangélicos sabe distinguir o papel do Estado e da Igreja, mesmo sem uma cultura política avançada. O evangélico, também, vota mais ou menos parecido com a média da população. E a população de maneira geral é conservadora. Ou a Folha acredita naquele elitismo idiota onde ela sabe o que a população deveria votar? 

O editorial também acha um absurdo citar a Bíblia para justificar alguma lei. Bom, normalmente tais citações carecem de uma boa exegese, mas a Bíblia não pode ser resumida a misticismos e mitos. A Bíblia em seus dois testamentos é o livro mais importante do mundo, logo por que é crime contra a inteligência e a liberdade citá-lo? Por que posso citar um paper de uma militante feminista e não posso citar a Escritura? Os dez mandamentos, que está no segundo livro do Pentateuco, é base importante da jurisdição judaico-cristã, logo não só do Direito Romano vive a nossa lei. Não digo que deva ser a única e definitiva base, mas inegável é a sua influência para o Ocidente. É com Cristo, e não com César, que aprendemos que não podemos confundir o mandatário romano com o Senhor do universo. O cristianismo é, por natureza, conflituoso com o Estado. E, toda vez que na história o cristianismo casou com César, a própria mensagem cristã sofreu prejuízos irreparáveis. 

Portanto, caro jornal Folha de S. Paulo, nós não vivemos sob uma ameaça fundamentalista. O Brasil, pelo contrário, dá mostra de vigor democrático e avanço institucional ao eleger um governo de esquerda e um congresso contido. E, nesse caso, os evangélicos ajudaram a eleger tanto os “progressistas” como os “conservadores” . Viva a liberdade, a liberdade de ser inclusive conservador!

Referência Bibliográfica:
 [1] HOUELLEBECQ, Michel. Submissão. 1 ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015. (254 p).

 [2] ALI, Ayaan Hirsi. Herege: por que o Islã precisa de uma reforma imediata. 1 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p 11.